Formas de narrativa
- Formas de narrativa? É esse o nosso assunto de hoje, professora? pergunta a aluna, ainda sonolenta.
- É isso mesmo! responde Eva, despertíssima. Hoje, vamos bater um papo sobre as diferentes formas de se contar histórias, de se narrar.
- E que diferentes formas são essas, Eva?
- Ah! São muitas! exclama a professora. São vários os meios de que dispomos para narrar. São várias as formas e as funções das narrativas!
- Formas? Funções? Dá pra senhora dar algum exemplo disso, Eva?
- É claro! Vamos bater um longo papo sobre as diversas formas e funções das narrativas. Hoje, vamos iniciar os nossos estudos, conversando um pouco sobre as narrativas míticas. Que tal?
- Narrativa mítica? O que é isso, Eva?
- Narrativa mítica? Narrativa mítica é... Acho melhor a gente dar uma olhada em um exemplo. Deem uma lida no texto abaixo.
Teogonia
Primeiro que tudo surgiu o Caos, e depois Gaia (Terra) de amplo peito, para sempre firme alicerce de todas as coisas, e o brumoso Tártaro num recesso da terra de largos caminhos, e Eros, o mais belo entre os deuses imortais, e que amolece os membros e, no peito de todos os deuses e de todos os homens, domina o espírito e a vontade ponderada. Do Caos nasceram Érebo e a negra Noite; e da noite, por sua vez, surgiu o Éter e o Dia, que ela concebeu e deu à luz depois de sua ligação amorosa com Érebo. E a Terra gerou primeiro Urano (o céu) constelado, igual a ela própria, para a cobrir em toda a volta, e para ser eternamente a morada segura dos deuses bem-aventurados. Deu à luz, sem seguida, as altas Montanhas, retiros aprazíveis das Ninfas divinas, que habitam nas montanhas arborizadas, rodeadas de vales. Também deu à luz o mar estéril, que se agita com suas vagas, o Ponto, sem deleitoso amor; e seguidamente, tendo partilhado o leito com Urano, gerou o Oceano dos redemoinhos profundos, e Coio e Crio e Hipérion e Jápeto. (Hesíodo, Teogonia, 116-134. Trad. Jaa Torrano, Ed. Iluminuras)
- E então? O que acharam da história que acabamos de ler? Gostaram? pergunta a professora.
- Nossa! Que confusão, Eva! reclama a aluna. É isso o que a senhora está chamando de narrativa mítica?
- É isso mesmo! Trata-se de uma narrativa das origens! Uma narrativa que pretende explicar as origens das coisas! As origens do céu, do dia, da noite, das montanhas, do oceano, da Terra... Enfim, as origens do universo!
A aluna enruga a testa e comenta.
- Origens do universo? Confesso que a narrativa acima não me explicou nada disso, professora. Muito pelo contrário! Ela me pareceu bastante confusa.
- Pois é, hoje esse tipo de narrativa mítica já não desempenha mais a função que desempenhava. Hoje, esse tipo de história já não nos toca como na época das sociedades mais antigas. Naquela época, sim, essas narrativas míticas cumpriam o seu papel explicativo.
- E que época era essa, Eva? pergunta o aluno.
- Estou falando de uma época anterior ao pensamento científico racional, uma época na qual as explicações ainda eram inteiramente dadas pelas narrativas míticas.
- Deixe-me ver se eu estou entendendo, professora. A senhora está falando que as narrativas míticas já cumpriram um papel de explicar a realidade, dando um sentido às coisas? É isso?
- Exatamente!
- Nossa! Quantas informações novas, Eva! diz o aluno, um pouco atordoado. Confesso que fiquei um pouco confuso com essa história toda de narrativa mítica... Podemos conversar mais sobre isso?
- Não se preocupem! observa Eva. Ainda vamos conversar bastante sobre tudo isso que foi dito hoje. Ainda vamos falar muito sobre as narrativas míticas.