A carta de Caminha
Quem acompanha o desdobrar da história do Brasil pode constatar que a carta é uma personagem de destaque em diferentes momentos históricos significativos.
Quer ver um exemplo? Leia o texto abaixo e confira.
Carta de Caminha
Senhor,
posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.
E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:
E digo quê:
A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.
Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser!
Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais !
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz! (Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel).
E aí? Conseguiu decifrar o texto acima?
Bem, não sei se você percebeu, mas a carta que você acabou de ler anuncia a chegada dos portugueses às terras brasileiras! Isso mesmo! Ela foi escrita pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, e endereçada ao rei de Portugal D. Manuel, no ano de 1500.
É... Isso já faz um tempinho... É por isso que a variedade linguística que consta nesse texto nos soa um pouco estranha em alguns momentos.
A carta de Caminha, como você pode notar, tinha objetivos bem definidos. Ela pretendia relatar ao rei de Portugal os acontecimentos da viagem das naus portuguesas, que haviam saído de Portugal à procura de uma nova rota para as Índias.
É, pois, na intenção de deixar o rei informado a respeito dos resultados da expansão marítima portuguesa, que o escrivão Caminha detalha em sua carta tudo o que se passou ao longo da viagem.
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