A sociedade de consumo e as visões de consumo
Os hábitos cotidianos nos parecem tão normais, que pouco paramos para pensar sobre eles. Tomar banho sob um chuveiro elétrico, comprar alimentos já preparados, comunicar-se por meio do celular ou do computador, são alguns exemplos desses hábitos.
Como se atendiam a essas necessidades há algum tempo atrás? Até a Revolução Industrial, a maior parte da população vivia no campo e produzia quase tudo do que necessitava. A industrialização mudou radicalmente a organização produtiva e social da Europa, a partir do século XVIII. Uma das primeiras mudanças ocorreu no habitat: as cidades cresceram e os campos esvaziaram-se de gente. As longas jornadas de trabalho e o assalariamento da população provocaram sua dependência do mercado. A autosuficiência no abastecimento característico dos hábitos rurais foi se desmantelando e, em seu lugar, começou a haver uma dependência crescente do abastecimento externo.
Essas transformações foram responsáveis pela formação da sociedade de consumo. As condições básicas para a sua formação, foram: dependência do mercado para o suprimento das necessidades cotidianas; assalariamento da população; aumento da produção de bens de consumo com as inovações tecnológicas, promovendo a eficiência produtiva e a diminuição dos preços; especialização do trabalhador, fazendo com que perdesse suas habilidades anteriores; surgimento da moda e da publicidade, alterando os hábitos de consumo e estimulando a qualidade e a produção.
Nesse contexto, ampliam-se as indústrias de bens de consumo, fazendo com que se tornassem o epicentro da economia capitalista. Altera-se, então, o papel funcional das cidades. A mundialização crescente das relações econômicas fez com que esse modelo de sociedade se expandisse para outros países e continentes.
A massificação dos hábitos de consumo acaba inibindo as reflexões sobre sua finalidade, intenções, e consequências. Por que consumimos? Há outros motivos além do atendimento básico das necessidades materiais e imateriais diárias. Quando o consumo deixa de ser meio e torna-se uma finalidade, caracteriza-se o consumismo. A base da sociedade moderna assenta-se sobre a generalização do objetivo de consumir.
Três elementos constituem a sociedade de consumo: a moda, a propaganda e o crédito. A moda dita os hábitos, a época e a duração desses hábitos; a propaganda divulga e o crédito permite a aquisição. A ciência tem papel fundamental nesse processo, pois é a responsável pelas inovações e as novidades são sempre bem vindas. Elas trazem solução, praticidade e conforto.
Nessa lógica, consumir é o que importa. Uma reflexão mais crítica ajuda a entender melhor: será que necessitamos de tudo o que desejamos adquirir? O desejo de adquiri-los é espontâneo ou induzido pelos fabricantes e distribuidores? A natureza dá conta de oferecer tantos recursos?
Esses questionamentos levam à identificação de algumas visões de consumo. Duas delas se destacam: a visão liberal e a visão crítica. A primeira assenta-se na concepção de que o consumidor é soberano. Não compete ao mercado questionar o que as pessoas desejam, sua função é atende-las. A segunda, assentada em Karl Marx diz que o mercado não atende simplesmente às necessidades. Ele cria o desejo e a fantasia, fazendo com que o consumo seja uma forma de atende-los, de tal forma que não há preocupação com as consequências.