Bálcãs: fim da Iugoslávia e guerra da Bósnia
Chamamos de Bálcãs a cadeia de montanhas do terciário localizada na península balcânica, no sul do continente europeu.
Como na região do Cáucaso, uma das principais características de sua população é a diversidade religiosa e étnica, que é a causa motriz dos diversos conflitos que aconteceram (e acontecem) por lá.
Os Bálcãs, ao longo de sua história, foram dominados por vários povos diferentes: foi parte dos impérios greco-macedônio, romano, bizantino, austro-húngaro e otomano. As principais etnias e religiões são: eslovenos e croatas (maioria de católicos romanos), sérvios, montenegrinos e macedônios (maioria de católicos grego-ortodoxos), albaneses e bósnios (maioria de muçulmanos).
Com tanta mistura num espaço relativamente pequeno, a região é mesmo um barril de pólvora.
A Grécia, localizada no extremo sul da península balcânica, mantém-se alheia aos conflitos dos países mais ao norte, com exceção de uma antiga rivalidade com a Macedônia – mas que nunca (até agora) provocou maiores contendas.
Os conflitos mais sangrentos da região aconteceram entre 1991 e 1995, período da desintegração da Iugoslávia.
A Iugoslávia só passou a ser conhecida como tal no fim da I Guerra Mundial, depois de um processo de formação de Estado-Nação que durou 105 anos (1815 a 1920). Antes disso, no fim do século XIX, toda a região estava sob o domínio dos impérios austro-húngaro e otomano.
Durante o processo de formação da Iugoslávia, a Sérvia, que sempre apresentou um forte nacionalismo, foi o primeiro país a libertar-se dos otomanos; desde então, o objetivo dos sérvios sempre foi o de constituir a Grande Sérvia e dominar os outros países da região. Tal objetivo não foi posto em prática então, e o Tratado de Paris (1919) acabou por criar o Reino dos Sérvios Croatas e Eslovenos, transformado, no ano seguinte, em Reino da Iugoslávia.
Veio, então, a II Guerra Mundial. A Iugoslávia resistiu à invasão nazista com o apoio dos monarquistas sérvios, mas, especialmente graças ao apoio dos guerrilheiros comunistas, liderados pelo croata Josip Broz, o famoso Marechal Tito. Com Tito, a Iugoslávia expulsou os nazistas e libertou o país. Em 1945, o marechal assumiu o poder e a nova Federação da Iugoslávia se tornou comunista – mas sem seguir os ditames da União Soviética.
Tito era carismático e comandava a Iugoslávia com pulso de ferro, gozando do prestígio que conquistara ao expulsar os nazistas e ao resistir, também, ao jugo soviético. Enquanto esteve no poder, conseguiu manter certa unidade e relativa paz entre os povos, rechaçando o nacionalismo sérvio. Suas estratégias consistiam em integrar as diferentes repúblicas por meio de obras estruturais comuns, como estradas, rede elétrica e de comunicação, por exemplo. Além disso, alternava dirigentes políticos das diferentes etnias nos cargos importantes, para que todos se sentissem representados.
Com a morte de Tito, em 1980, a Iugoslávia começou a viver um longo conflito, que a levou à desintegração política e territorial. Sem um chefe de Estado capaz de manter as repúblicas unidas e, ainda, recebendo as influências do processo histórico do fim do comunismo no leste europeu, diferentes grupos começaram a enfrentar-se numa guerra aberta, entre 1991 e1995.
Em 1991, Croácia e Eslovênia declaram-se independentes. Os sérvios que viviam nesses países não concordaram, pois não queriam se separar dos outros sérvios iugoslavos. Nesse momento, entra em cena o novo líder sérvio, Slobodan Milosevic, que retoma os antigos desejos de implantar a Grande Sérvia na região dos Bálcãs.
Começa a intervenção nas repúblicas “rebeldes”, Croácia e Eslovênia. Na Eslovênia, os conflitos aconteceram de forma mais branda: o país se separou e não se envolveu nas querelas servo-croatas. Na Croácia, a população de sérvios era maior; portanto, a resistência contra a separação foi muito mais violenta. O país viveu uma guerra civil que durou um ano e desembocou na separação da Croácia do governo central da Iugoslávia.
Logo depois, foi a vez da Bósnia-Herzegovina entrar em guerra pela independência e pela separação da Iugoslávia. Além de sérvios, na Bósnia, viviam muitos croatas, levando a Croácia a se envolver na guerra e a reivindicar os territórios bósnios habitados por croatas.
A guerra da Bósnia foi a mais longa e sangrenta da península balcânica, apresentando um saldo de mais de 250 mil mortos, fora os outros horrores de uma guerra insana e incontrolável, como mutilações e outros traumas irreparáveis. Em 1995, finalmente, um acordo - o de Dayton - colocou um fim no conflito. A Bósnia foi dividida em duas partes: a República Sérvia da Bósnia e a Federação Muçulmana Croata.
Em 1997, Slobodan Milosevic foi eleito presidente da Iugoslávia. Em 1998 ocorreu o último conflito violento nos Bálcãs – a guerra de Kosovo. Nessa região autônoma, cerca de 80% dos habitantes eram albaneses e passaram a lutar pela independência e pela expulsão dos poucos sérvios de seu território.
Milosevic endurece contra a pequena província, e o ELK e o UCK reagem. Começa, então, o novo massacre. Apenas em 1999, depois de ataques da Otan (como aconteceu na guerra da Bósnia), Milosevic aceita as condições da ONU e uma força de paz internacional é instalada na região.
Nesse mesmo ano, Milosevic é derrotado para a reeleição. Ele se recusa a aceitar a derrota, e o mesmo povo que o alçara ao poder antes exigia que ele se depusesse imediatamente. Em 2000, ele foi preso pelas autoridades federais iugoslavas, por suspeita de corrupção, abuso de poder e apropriação indébita. Foi preso, também, no Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (TPII), um comitê das Nações Unidas, sob acusação de crimes contra a humanidade. O ex-presidente passou para a clandestinidade, sendo preso em 28 de junho de 2001. Morreu em 2006, numa cela do referido tribunal, em Haia, na Holanda.
Na fase atual, os jovens países desmembrados da ex-Iugoslávia despendem grandes esforços para a construção da democracia, estruturação da economia de mercado e integração à União Europeia (UE). Tentam, também, melhoras as condições internas para atrair ao menos parte da população que migrou para outros países durante o período dos conflitos.