Adolescentes no Brasil e no mundo
No último dia 25 de fevereiro, a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgou seu principal relatório, chamado de Situação Mundial da Infância. O tema deste ano foi a adolescência: tanto a situação de quem hoje possui de 10 a 19 anos, quanto algumas indicações de políticas necessárias à melhoria de vida e de oportunidades para essas pessoas. Números de 2010 apontam para a existência de cerca de 1,2 bilhão de adolescentes (um quinto de toda a população mundial) - um número três vezes maior, portanto, daquele encontrado na década de 1950.
A escolha do assunto a ser apresentado e discutido pelo estudo se deu, segundo a percepção daqueles que o elaboraram, por um motivo preocupante e óbvio: se, por um bom tempo, grande parte dos esforços dos órgãos internacionais e dos governos se concentrou em melhorar a qualidade de vida na primeira infância, o que se notou foi que essa atenção não era suficiente. Há, na fase seguinte da história dos indivíduos, graves problemas, que acabam por impedir que eles tenham uma vida adulta plena.
Exemplos: o número de adolescentes que frequentam a escola é um terço menor do que o de crianças que ocupam as salas do ensino primário. Anualmente, um terço de todos os novos infectados com HIV diz respeito a jovens que possuem entre 15 e 24 anos de idade. Além disso, 25% dos trabalhadores pobres do mundo são jovens, sendo que grande parte vive de atividade agrícola, o que faz com que tenham pouco tempo para se educarem a fim de adquirir técnicas que trariam melhorias em suas condições sociais e de trabalho.
A situação no Brasil
Em nosso país, há cerca de 21 milhões de adolescentes, ou seja, quase 10% de toda a população. Os números que indicam a situação de vida dos jovens, no Brasil, também não são muito animadores. Para termos uma ideia, basta dizer que 38% dessas pessoas vive em situação de pobreza, contra uma média nacional de 29%. Isso porque os adolescentes tendem a ser, ao mesmo tempo, um grupo que recebe pouco auxílio de políticas públicas voltadas às suas necessidades, enquanto suas oportunidades de trabalho são poucas. Essa oferta, aliás, tende a piorar conforme a renda familiar do adolescente, o lugar onde mora, o gênero etc.
Os adolescentes são mais vulneráveis também em relação à violência, à redução dos níveis de qualidade de vida e à violação de seus direitos. Um caso que demonstra essa última situação está no número de nascimentos com mães entre 10 e 14 anos, que, em 2008, chegou a 28.479. Desse total, 15 mil aconteceram nas regiões Norte e Nordeste. O detalhe é que, em nosso país, relações sexuais antes dos 15 anos são consideradas – do ponto de vista jurídico – abuso.
Algumas das propostas da UNICEF para a melhoria da situação, no caso específico do Brasil, são:
a) que os adolescentes sejam ouvidos nos processos de tomada de decisão como condição essencial para se alcançar mais equidade. Para isso, é necessário ampliar os canais de participação na esfera das políticas públicas e institucionalizar os mecanismos de participação...;
b) que as escolas aproveitem a facilidade de aprendizado dos adolescentes e contribuam para que eles adquiram competências, habilidades e conhecimentos necessários para desenvolver todo o seu potencial;
c) que um esforço especial seja feito para reduzir a violência que atinge os adolescentes, com especial atenção para as causas dos homicídios.
O relatório apresenta, ao mesmo tempo, diagnósticos e generalizadas possíveis soluções. O quanto ele definirá mudanças no setor governamental e nas organizações civis não se sabe: o certo é que o problema existe, e a atenção foi chamada. Talvez, o primeiro passo em direção a transformações seja o de nos perguntar – sejamos adultos ou adolescentes – sobre o que é possível fazer para a melhoria dessas circunstâncias. Depois, quem sabe, colocarmos essas ideias em ação.