Protegemos os nossos animais?
Em março de 2010, foi instalada, na cidade de Campinas, a primeira Delegacia de Proteção aos Animais do Estado de São Paulo. Depois de exatamente um ano de sua criação e por conta da demanda de casos, a delegacia ganhou sede própria, o que facilitará seus casos de apuração de denúncias e de investigações a respeito de maus tratos contra cães, gatos, pássaros, cavalos etc.
A real necessidade de desenvolvimento do órgão se deu após a ocorrência de um fato absurdo: um homem, irritado com seu cão, amarrou-o em uma moto e arrastou-o por cerca de 10 km. O animal não resistiu aos ferimentos.
Que crimes contra animais aconteçam a todo o momento e devam realmente ser rechaçados e punidos, não há quem discorde. Em março deste ano, entretanto, em uma coluna do jornal norte-americano The New York Times, o jornalista Mark Bittman levantou uma questão interessante a partir de uma afirmação simples: alguns animais são mais iguais que outros.
O texto se desenrola abrindo uma questão intrigante, que nos faz pensar a respeito de toda essa institucionalização da proteção dos animais: por que abrimos processo e punimos aqueles que cometem crimes contra animais domésticos, enquanto que, em fazendas de criação de animais de abate, por exemplo, como bois e galinhas, o tratamento dado a essas criaturas é, muitas vezes, criminoso?
Aves nascidas com má formação genética são eliminadas, às vezes em moedores, sem qualquer tipo de anestesia. Sem anestesia também são castrados milhares de bezerros e porcos. Quando um surto de doença acomete uma grande quantidade de animais pequenos e de fácil reprodução (como galinhas), ao invés de serem tratados com antibióticos, são deixados de lado e morrem sem receber um tratamento sequer. Porcos ou aves são criados em espaços tão pequenos, que não conseguem se movimentar, dar ao menos um passo. O número de atrocidades parece não ter fim.
Vamos, pois, voltar à questão que colocamos: por que prendemos o dono de um porco domesticado, quando o animal sofre maus tratos, e por que ficamos indignados com essa situação, quando crimes piores são cometidos de maneira massificada em fazendas de criação desses mesmos animais?
Talvez ,porque um animal doméstico ganhe um nome e, por isso, seja tratado como sujeito. Talvez, porque esses crimes aconteçam próximos de nós e com animais com os quais estamos mais acostumados a lidar. Talvez, porque nos faça bem, em termos morais, acreditar que estamos lidando com o problema da violência contra os animais quando tratamos apenas desses casos específicos de maus tratos domésticos.
A criação de uma delegacia para cuidar do abuso contra seres que, como nós, sentem dor, sendo que muitos possuem um nível de consciência elevado, é algo a ser comemorado. Mas, não devemos nos esquecer de que ela dará conta de uma parte ínfima do problema. É bom que fiquemos sabendo, e pensemos, o quanto essa questão é enorme e difícil. O primeiro passo para o começo de ações urgentes e necessárias.