11 de setembro: dez anos depois
Nos últimos dias, Nova York passou por dois sustos: um terremoto e um furacão. Qualquer pessoa, no entanto, poderia dizer que isso não foi nada - nada mesmo, comparado ao que a cidade vivia há dez anos.
Dez anos depois da derrubada das torres gêmeas em Manhattan, as cicatrizes ainda não se fecharam; apesar de os últimos dias não terem trazido nenhuma grande tragédia, o trauma e o medo surgiram das cicatrizes abertas e tomaram a memória das pessoas.
Há dez anos, dois aviões se chocaram contra as torres norte e sul do World Trade Center, levando-as abaixo menos de duas horas depois dos choques. Outro avião atingiu o Pentágono, em Washington e outro, ainda, caiu num terreno vazio da Pensilvânia antes de atingir o alvo, pois seus passageiros lutaram contra os sequestradores; o alvo, supõe-se, poderia ter sido tanto a Casa Branca, quanto o Congresso. Mais de três mil mortos são contados neste que foi o maior atentado terrorista, de cunho fundamentalista religioso, de todos os tempos.
O 11/9 permaneceu profundamente marcado na memória coletiva norte-americana, tragédia, em termos de impacto, comparável somente ao assassinato do presidente John F. Kennedy, em 1963.
De lá para cá, muitas coisas aconteceram, entre elas a imersão dos EUA em duas guerras, no Afeganistão e no Iraque, que mataram mais de seis mil soldados norte-americanos e custaram ao país US$ 4 trilhões (mais do que o PIB de muitos países), e a recente execução de Osama bin Laden, no Paquistão.
As dimensões daquele 11/9, que ainda se desdobram e continuarão se desdobrando – pois assim é feita a História - são sentidas desde a transformação na segurança dos aeroportos até a complexa relação de convivência entre o Ocidente (do qual os EUA são o bastião) e o mundo islâmico. Talvez esse “choque de civilizações”, preconizado desde muito antes dos atentados, seja o mais representativo de todos os elementos sócioespaciais e geopolíticos trazidos na esteira do evento.
Na época, no calor de um momento sem precedentes na história, pesquisas apontavam que grande parte da população, em vários países do mundo, acreditava que os atentados desencadeariam a III Guerra Mundial. De fato, a guerra ao terror envolveu diversos territórios e conduziu ações militares em várias partes do mundo, como os próprios Afeganistão e Iraque (país cuja invasão, como ficou evidenciado depois, não tinha nada a ver com a guerra contra o terrorismo).
Tais ações militares, no entanto, não chegaram nem perto de desencadear uma guerra mundial, principalmente porque a guerra contra o terror não é uma guerra onde Estados Nacionais se enfrentam, mas uma guerra sem territórios definidos, onde os combatentes compõem organizações fantasmas e atacam países que, por seu lado, tentam combatê-las através do esforço de inteligência – bin Laden, afinal, não foi capturado numa guerra, e sim num esconderijo descoberto pela Cia., quase dez anos depois que o exército norte-americano arrasou o Afeganistão em sua busca.
Hoje, os EUA vivem uma crise econômica que, segundo diversos economistas – dos próprios EUA e do mundo – é causa direta da reação do governo Bush aos ataques da Al Qaeda. Os US$ 4 trilhões gastos nas duas guerras citadas (por exemplo, com a compra de armamentos e também devido ao aumento dos preços do petróleo) representam entre 40% e 49% do aumento da dívida pública norte-americana neste período de dez anos: ela passou de US$ 6,8 trilhões para 14 trilhões – o PIB norte-americano é de US$ 14,6 trilhões, só para termos uma ideia aproximada das dimensões do dinheiro que foi gasto na guerra pós 11/9.
No contexto geopolítico, enquanto os EUA lutavam duas guerras simultâneas, um país crescia no cenário econômico: a China, que passou de sexta a segunda maior economia do mundo. O peso chinês na produção global passou de 3,7% para 9,3%, enquanto o dos EUA caiu de 31% para 23%. No vácuo e na dívida criados pela maior potência do mundo, o gigante asiático encontrou espaço e oportunidade para atuar e ocupar os espaços na economia – não é à toa que os produtos chineses são despejados em quase todos os territórios do mundo, em toneladas.
Se pesquisas apontam que, diferentemente de dez anos atrás, a maioria dos norte-americanos não acredita num ataque terrorista iminente – afinal, o fantasma do desemprego é mais assustador atualmente -, ainda assim, no domingo, 11/09, com a presença de Barack Obama, George W. Bush, Rudolph Giuliani e Michael Bloomberg, Nova York (e o mundo) assistirão a uma cerimônia que, muito provavelmente, comoverá multidões e trará de volta a dor, a estupefação e a compaixão daqueles dias terríveis, quando Nova York silenciou, debaixo de uma nuvem de poeira cinza.