O poder das armas biológicas
Poxvirus variolae, Clostridium botulinum, Yersinia pestis, Francisella tularensis, Bacillus anthracis. Que língua é essa mais esquisita? Quanto nome estranho! Quem serão eles ?
Como prometido a semana passada, vamos continuar a nossa conversa sobre as armas invisíveis. Esses nomes tão esquisitos são de alguns microrganismos (vírus e bactérias) utilizados como armas biológicas. Muitos deles já trouxeram muita preocupação para a civilização humana no passado, não em guerras, mas em grandes epidemias que se alastraram por inúmeros países. Talvez, o poder bélico desses seres vivos tenha sido descoberto através de um levantamento histórico sobre as consequências da ação dos mesmos sobre as populações mundiais.
Não é à toa que apenas algumas bactérias e vírus foram escolhidos para serem utilizados em guerras e ataques terroristas. Eles são realmente muito perigosos, possuindo um poder de destruição tão grande quanto o da explosão de uma bomba atômica.
Como é que pode, organismos tão pequenos que não conseguimos nem enxergar, serem capazes de destruir populações inteiras? O que eles têm de tão especial ?
Lutar contra algo que não conseguimos enxergar é muito mais difícil, não é mesmo? Se não enxergamos o inimigo, como é que vamos nos proteger ?
Além de serem inimigos invisíveis aos olhos dos seres humanos, esses seres vivos conseguem driblar muito bem o sistema de defesa do nosso organismo.
O nosso sistema de defesa, composto principalmente pelo sistema imune, possui inúmeros soldados. Na verdade, esses soldados são nada mais nada menos do que células especializadas para encontrarem e destruírem qualquer corpo (uma outra célula, um organismo ou até mesmo uma substância química) que não for reconhecido como pertencente ao organismo humano. As principais células do nosso sistema imune são: os macrófagos e os linfócitos. Além das células, compostos químicos (por exemplo, proteínas chamadas de anticorpos) produzidos por elas auxiliam nessa guerra celular contra inimigos externos.
As bactérias e vírus são tidos pelo nosso sistema imune como corpos estranhos e, portanto, a presença deles no organismo humano desencadeia uma verdadeira guerra.
É uma guerra diária, onde os soldados são constantemente substituídos para nunca parar a vigília. Quando o inimigo é muito poderoso, as batalhas são mais intensas e trazem consequências prejudiciais, já que atrapalham o bom funcionamento do organismo. Nesses momentos é que ficamos doentes!! Temos febre, mal estar e inúmeros outros sintomas (diarreia, vômito, dor de cabeça...), o que vai depender do órgão, tecido ou células atacadas pelo corpo estranho.
O problema é quando os nossos soldados não conseguem defender o corpo humano desses inimigos externos. Aí temos que ajudá-los com antibióticos (no caso de bactérias), repouso e uma boa alimentação para que nosso sistema imune se recupere e vença a batalha.
Infelizmente, aqueles microrganismos de nomes muito estranhos que citamos acima, dificilmente perdem alguma batalha, mesmo que todos os cuidados sejam tomados para fortalecer o nosso exército. É por isso que são tão perigosos.
As doenças que eles causam, quase nunca possuem cura!! Não existem vacinas eficientes e nem remédios milagrosos. Além disso, muitas são altamente contagiosas, ou seja, um indivíduo doente acaba contagiando todos aqueles que estão a sua volta. Dessa forma, os microrganismos causadores das doenças se alastram com extrema rapidez, mesmo porque a velocidade de reprodução dos mesmos é surpreendente.
Sem cura e com essa velocidade de expansão, quem é que segura esses inimigos? Ninguém tem esse poder e é por isso que há tanto medo de que algumas autoridades mundiais utilizem esse tipo de armamento nos desentendimentos existentes entre seus países.
Com os avanços sobre a manipulação genética dos organismos vivos, bactérias e vírus ainda mais poderosos têm sido criados em laboratório. Super bactérias e vírus, muito infecciosos, com velocidade de reprodução anormal, e de fácil produção laboratorial já existem no mercado !!
Podemos citar, como algumas das armas biológicas mais poderosas e conhecidas hoje em dia, a bactéria causadora do antraz (Bacillus anthracis) e o vírus da varíola (Poxvirus variolae). Logo abaixo, algumas características desses seres vivos.
O Antraz
O bacilo causador do antraz ataca em primeiro lugar um tipo celular específico do nosso sistema imune: os macrófagos. É uma substância tóxica, produzida por esse bacilo, que acaba com os macrófagos, enfraquecendo a nossa proteção natural contra a proliferação da bactéria. Estando o caminho livre, o antraz faz a festa!! Na verdade, a bactéria causadora do antraz infecta quase exclusivamente animais, atacando o homem apenas ocasionalmente. Nos humanos, a doença pode ser desenvolver de 3 formas: a cutânea, a pulmonar e a intestinal. De longe a mais grave é a pulmonar.
| "uma única ogiva de esporos de antraz que aterrisasse em Washington D.C., num dia de ventos moderados, seria capaz de matar entre trinta a 100 mil pessoas - um pouco mais perigoso do que uma bomba atômica do tamanho daquela despejada em Hiroshima, mas nada comparável à devastação de ogiva nuclear moderna. Além disso os esporos de antraz sobrevivem no solo, quando enterrados em locais não atingidos por luz solar. A ilha Gruinard, onde a Inglaterra detonou uma bomba experimental de antraz durante a Segunda Guerra Mundial, ainda é inabitável" |
As bactérias do antraz podem ser transmitidas pelo ar, através de esporos. A inalação de uma pequena quantidade de esporos poderá causar a manifestação da doença, que inicialmente tem sintomas similares ao da gripe, mas que depois piora muito; só tem cura se tratado logo no início. Além disso, desde 1881, quando os primeiros estudos foram realizados por Louis Pasteur, não foi encontrada uma vacina eficaz para prevenção da população contra a infecção causada por essa bactéria.
O antraz, dificilmente é transmitido pelos infectados, seja pelo ar, por secreções ou pelo contato. Isso poderia diminuir a sua eficácia como arma de destruição em massa, mas por se reproduzir a velocidades estonteantes, ser capaz de viver por muito tempo no ambiente na forma de esporos e ser facilmente manipulável em laboratório, é considerada uma poderosa e clássica arma biológica!
A Varíola
Essa não é uma doença da sua época, mas temos certeza que se você perguntar para sua mãe, ou melhor, para sua avó, elas certamente já ouviram falar dela. Ao contrário do antraz, a varíola é uma doença causada por um vírus chamado Poxvirus variolae. Portanto, como todo bom vírus, ele tem uma capacidade fantástica de se esconder do nosso sistema imune. A cada ciclo reprodutivo, ele muda alguma característica da sua estrutura (alguma molécula, proteína, etc), dificultando a ação do nosso sistema imune. Enquanto os soldados investigam, o vírus se multiplica e se transforma novamente. Enfim, é praticamente impossível acompanhar esse rei dos disfarces.
É uma doença tão grave que cerca de 30% dos infectados morrem. Além disso, é extremamente contagiosa, sendo transmitida por partículas de saliva do infectado, mesmo a longas distâncias.
Da mesma forma que esse vírus engana o nosso sistema imune, ele também dribla os remédios que fabricamos para combatê-los. A eficácia de vacinas contra o vírus da varíola é baixa e ainda por cima pode causar efeitos colaterais. Mesmo assim, até 1980, essa era uma das armas mais poderosas que tínhamos para lutar contra a doença.
Hoje em dia, a varíola é considerada uma doença erradicada. Como há 30 anos não se fala mais nessa doença, não existem mais estoques dessa vacina.
Além disso, o nosso sistema imune não faz a mínima ideia de quem seja esse terrível vírus, já que nunca entrou em contato com ele.
Essa falta de vacinas e o despreparo do nosso sistema de defesa, nos deixa muito preocupados quando pensamos na possibilidade do vírus da varíola ser utilizado com arma biológica. Será um desastre fatal para milhões de pessoas em todo o mundo.
Como a esperança é a última que morre, vamos acreditar no bom senso dos dirigentes mundiais para que não cometam nenhuma besteira utilizando esse tipo de armamento nos seus conflitos.
Vamos esperar ainda que tudo seja resolvido com uma boa e longa conversa!