Protestos por todo o país, que já se convertem em momento histórico, começaram em função da revolta dos paulistanos contra o aumento em seu sucateado transporte público coletivo.
Ainda é cedo para tentar prever o que os livros de História do Brasil dirão mais tarde sobre este mês de junho de 2013. Ainda assim, diante de muito mais do que duas centenas de milhares de pessoas tomando as ruas de capitais, em plena época de festividades pré-Copa do Mundo, este é, desde já, um momento histórico e sem precedentes – dado o número de manifestantes nas ruas e a rapidez com que foram conquistados para a passeata.
Nas ruas, muitas eram as palavras de ordem e muitas eram as reivindicações, pois, afinal, são muitos e imensos os problemas. Mas tudo começou de maneira bem mais tímida, no dia 7 de junho, com cerca de 500 pessoas na área central do maior centro urbano do país: São Paulo. Ali, os manifestantes, liderados pelo MPL (Movimento do Passe Livre), se mostravam revoltados com o aumento da passagem dos ônibus, que, de R$ 3,00, passaria a custar R$ 3,20. Rapidamente, milhares de pessoas aderiram à causa, se organizando e decidindo a ir pelas ruas exigir do poder público que voltasse atrás e revogasse o aumento. Talvez tenha sido a violenta repressão policial contra a manifestação, ocorrida no dia 13 de junho, filmada, fotografada e compartilhada pelos seus próprios protagonistas, que tenha amplificado o movimento; talvez tenha sido apenas a visão de pessoas, muitas delas, nas ruas, reivindicando seus direitos, que tenha inspirado e impelido mais pessoas, em mais lugares, a se juntar ao grito entalado. Talvez tenha sido a combinação das duas coisas, mas o fato é que o estopim, a “gota d’água” que mencionam por aí, foi o aumento, portanto, de R$ 0,20 na passagem do coletivo urbano.
Isso merece um olhar mais demorado porque, afinal de contas, protestos e ativismos em função de causas nobres, como a violência policial contra os mais pobres e a violência estatal contra grande parte da população, em todas as esferas que possamos imaginar, existem e há muito tempo. Mas foi uma revolta diretamente relacionada ao transporte coletivo em uma metrópole que começou tudo, e não foi a primeira vez.
A mobilidade nos centros urbanos é fundamental
Entre 28 de dezembro de 1879 e 4 de janeiro de 1880, pessoas morreram (o número não é exato) no que ficou conhecido como a Revolta do Vintém: protestos violentos nas ruas do Rio de Janeiro, na época capital do Império, contra a cobrança de uma taxa de vinte réis (um vintém) nas passagens do transporte urbano – bondes puxados por burros. Em 1956, também na então capital federal, Rio de Janeiro, protestos contra aumentos de tarifas dos bondes se transformaram em crise nacional, que só foi controlada após a intervenção direta do presidente da República, Juscelino Kubitscheck, que instou o então prefeito do Rio, Negrão de Lima, a revogar o aumento que dobrava a tarifa de Cr$ 1,00 para Cr$ 2,00.
Em que pesem todas as mazelas sociais brasileiras, se a mobilidade, isto é, a ação de movimentar-se, é restringida ou mesmo ameaçada, o cidadão cessa de existir de vez. Porque seja ele desempregado, subempregado, pobre ou remediado, ele precisa se mexer, precisa ir de um lugar para o outro. Sem isso não há existência possível, especialmente e fundamentalmente num grande centro urbano. Viver, hoje, nas grandes cidades do planeta é ter que enfrentar diariamente uma série de problemas, como violência urbana, falta de moradia e de áreas de lazer, deterioração das relações humanas e, claro, trânsito intenso. Milhares de pessoas se deslocam pelas ruas para ir ao trabalho, à escola, visitar pessoas, ir ao médico, etc. A maioria das cidades brasileiras não foi projetada para receber o grande número de veículos particulares que nelas circulam e que, ano a ano, aumentam sua frota. Ao mesmo tempo, o poder público não dispensa a atenção necessária para os transportes coletivos – o que, vimos, é histórico -, oferecendo um serviço péssimo por um alto preço.
Dentre as inúmeras e funestas consequências de nossos problemas sociais, ser-nos tirado o acesso (digno) de circular pela cidade, já tão inacessível para quem não tem dinheiro, é, talvez, a ação truculenta de efeito mais imediato.
A má qualidade e os altos preços do transporte coletivo na capital paulista foram o estopim para uma série de protestos pelo Brasil
Protestos por todo o país, que já se convertem em momento histórico, começaram em função da revolta dos paulistanos contra o aumento em seu sucateado transporte público coletivo.
Ainda é cedo para tentar prever o que os livros de História do Brasil dirão mais tarde sobre este mês de junho de 2013. Ainda assim, diante de muito mais do que duas centenas de milhares de pessoas tomando as ruas de capitais, em plena época de festividades pré-Copa do Mundo, este é, desde já, um momento histórico e sem precedentes – dado o número de manifestantes nas ruas e a rapidez com que foram conquistados para a passeata.
Nas ruas, muitas eram as palavras de ordem e muitas eram as reivindicações, pois, afinal, são muitos e imensos os problemas. Mas tudo começou de maneira bem mais tímida, no dia 7 de junho, com cerca de 500 pessoas na área central do maior centro urbano do país: São Paulo. Ali, os manifestantes, liderados pelo MPL (Movimento do Passe Livre), se mostravam revoltados com o aumento da passagem dos ônibus, que, de R$ 3,00, passaria a custar R$ 3,20. Rapidamente, milhares de pessoas aderiram à causa, se organizando e decidindo a ir pelas ruas exigir do poder público que voltasse atrás e revogasse o aumento. Talvez tenha sido a violenta repressão policial contra a manifestação, ocorrida no dia 13 de junho, filmada, fotografada e compartilhada pelos seus próprios protagonistas, que tenha amplificado o movimento; talvez tenha sido apenas a visão de pessoas, muitas delas, nas ruas, reivindicando seus direitos, que tenha inspirado e impelido mais pessoas, em mais lugares, a se juntar ao grito entalado. Talvez tenha sido a combinação das duas coisas, mas o fato é que o estopim, a “gota d’água” que mencionam por aí, foi o aumento, portanto, de R$ 0,20 na passagem do coletivo urbano.
Isso merece um olhar mais demorado porque, afinal de contas, protestos e ativismos em função de causas nobres, como a violência policial contra os mais pobres e a violência estatal contra grande parte da população, em todas as esferas que possamos imaginar, existem e há muito tempo. Mas foi uma revolta diretamente relacionada ao transporte coletivo em uma metrópole que começou tudo, e não foi a primeira vez.
A mobilidade, especialmente nas grandes cidades, tem de ser garantida pelo poder público
A mobilidade nos centros urbanos é fundamental
Entre 28 de dezembro de 1879 e 4 de janeiro de 1880, pessoas morreram (o número não é exato) no que ficou conhecido como a Revolta do Vintém: protestos violentos nas ruas do Rio de Janeiro, na época capital do Império, contra a cobrança de uma taxa de vinte réis (um vintém) nas passagens do transporte urbano – bondes puxados por burros. Em 1956, também na então capital federal, Rio de Janeiro, protestos contra aumentos de tarifas dos bondes se transformaram em crise nacional, que só foi controlada após a intervenção direta do presidente da República, Juscelino Kubitscheck, que instou o então prefeito do Rio, Negrão de Lima, a revogar o aumento que dobrava a tarifa de Cr$ 1,00 para Cr$ 2,00.
Em que pesem todas as mazelas sociais brasileiras, se a mobilidade, isto é, a ação de movimentar-se, é restringida ou mesmo ameaçada, o cidadão cessa de existir de vez. Porque seja ele desempregado, subempregado, pobre ou remediado, ele precisa se mexer, precisa ir de um lugar para o outro. Sem isso não há existência possível, especialmente e fundamentalmente num grande centro urbano. Viver, hoje, nas grandes cidades do planeta é ter que enfrentar diariamente uma série de problemas, como violência urbana, falta de moradia e de áreas de lazer, deterioração das relações humanas e, claro, trânsito intenso. Milhares de pessoas se deslocam pelas ruas para ir ao trabalho, à escola, visitar pessoas, ir ao médico, etc. A maioria das cidades brasileiras não foi projetada para receber o grande número de veículos particulares que nelas circulam e que, ano a ano, aumentam sua frota. Ao mesmo tempo, o poder público não dispensa a atenção necessária para os transportes coletivos – o que, vimos, é histórico -, oferecendo um serviço péssimo por um alto preço.
Dentre as inúmeras e funestas consequências de nossos problemas sociais, ser-nos tirado o acesso (digno) de circular pela cidade, já tão inacessível para quem não tem dinheiro, é, talvez, a ação truculenta de efeito mais imediato.