22 de Abril: descobrimento ou conquista do Brasil?
Todos os anos, em 22 de abril, celebra-se uma das datas comemorativas mais importantes: o famigerado Dia do Descobrimento do Brasil. Teria sido nesse dia, no ano 1500, que o navegador português Pedro Álvares Cabral se tornara oficialmente o primeiro europeu a chegar a terras brasileiras. Aquela era uma época de profundas transformações na sociedade europeia, que logo se fizeram sentir no restante do mundo. A denominada “Idade Moderna”, como aquele período veio a ser chamado, foi marcada por rupturas radicais na política, na economia e na cultura: o poder da Igreja Católica foi questionado e expandiu-se o cristianismo protestante; os Estados nacionais consolidaram o processo de centralização política; a burguesia conquistou cada vez mais força; e expandiram-se os movimentos culturais do Renascimento e do Humanismo, produzindo enormes mudanças nas artes e nas ciências. Foi nesse quadro que ocorreram as expansões marítimas comerciais de países como Portugal, Espanha, França, Holanda e Inglaterra, por meio das quais foram descobertas novas rotas comerciais para o Oriente e teve início o processo de colonização da América, incluindo o Brasil.
Por muito tempo, os historiadores tradicionais expuseram apenas os aspectos positivos desse processo, enfatizando as glórias, os benefícios e o progresso possibilitado pela colonização europeia do continente americano. Desse modo, a historiografia se esforçava por transmitir uma perspectiva heroica dos feitos da conquista dos europeus. Na verdade, nessa época, o termo “conquista” foi quase banido da História, dando lugar à expressão “descobrimento”, muito utilizado ainda hoje. Assim, ao invés de “conquista do Brasil” ou “conquista da América”, os historiadores escreviam “descobrimento da América” ou “descobrimento do Brasil”. Com raízes antigas, essa substituição de palavras pode ter começado já em 1556, quando o rei da Espanha proibiu o uso da palavra “conquista” em favor do termo “descobrimento”. Mais do que uma mera predileção terminológica, essa escolha era influenciada pelo cuidado em se evitar a ideia de que ocorrera uma violenta guerra entre os conquistadores (os europeus) e os conquistados (os nativos).
O fato, no entanto, é que a conquista da América e do Brasil pelos europeus realmente ocorreu, frequentemente de forma violenta. Nos locais dominados, a economia, o ritmo de trabalho e os hábitos alimentares tiveram de se adaptar aos padrões europeus. O fato de que hoje, no Brasil, falamos a língua portuguesa e praticamos o cristianismo é uma herança da presunção de superioridade cultural europeia em relação ao restante do mundo. No domínio da religião, aliás, o cristianismo foi imposto a todas as sociedades das terras conquistadas. Qualquer manifestação religiosa diferente do cristianismo era reprimida. Não por acaso, atualmente o cristianismo é a religião mais praticada na América. Neste continente, aliás, embora a escravização de povos africanos tenha sido a mais conhecida, os locais também foram escravizados em massa, sendo frequentemente transportados para regiões distantes e obrigados a realizar trabalhos com os quais não estavam acostumados.
A chegada dos europeus ao continente americano resultou, ainda, em um dos maiores genocídios de toda a história. Para os povos locais, atualmente chamados de “pré-colombianos”, a expansão europeia representou o fim da organização social, cultural, econômica e política vigentes. Em grande parte, as culturas locais foram ignoradas pelos europeus, que tomaram as terras dos nativos e lhe impuseram os valores europeus. O domínio europeu sobre os povos americanos se assentava na presunção de uma superioridade cultural europeia em relação ao restante do mundo. Desse modo, os conquistadores se viam como detentores do direito de conquista e, por meio das navegações, trataram de difundir seus costumes, valores e hábitos para as mais diversas partes do mundo. A expansão europeia também foi fortemente influenciada por um viés religioso e catequizador. Os participantes das viagens de expansão sentiam-se imbuídos do mesmo espírito entusiasmado dos cavaleiros das cruzadas medievais com relação à divulgação da fé cristã. Assim, além das questões políticas e econômicas, a expansão era justificada com base na ideia de conquistar e converter os povos não cristãos do mundo.
Foi assim que teve início a formação da nação brasileira. Tudo começou naquele longínquo 22 de abril de 1500, uma data celebrada ainda hoje. Grande parte dos eventos que se seguiram àquele dia, porém, parecem pouco dignos de celebração.
Teria sido em 22 de abril de 1500 que o navegador português Pedro Álvares Cabral se tornara oficialmente o primeiro europeu a chegar a terras brasileiras
Todos os anos, em 22 de abril, celebra-se uma das datas comemorativas mais importantes: o famigerado Dia do Descobrimento do Brasil. Teria sido nesse dia, no ano 1500, que o navegador português Pedro Álvares Cabral se tornara oficialmente o primeiro europeu a chegar a terras brasileiras. Aquela era uma época de profundas transformações na sociedade europeia, que logo se fizeram sentir no restante do mundo. A denominada “Idade Moderna”, como aquele período veio a ser chamado, foi marcada por rupturas radicais na política, na economia e na cultura: o poder da Igreja Católica foi questionado e expandiu-se o cristianismo protestante; os Estados nacionais consolidaram o processo de centralização política; a burguesia conquistou cada vez mais força; e expandiram-se os movimentos culturais do Renascimento e do Humanismo, produzindo enormes mudanças nas artes e nas ciências. Foi nesse quadro que ocorreram as expansões marítimas comerciais de países como Portugal, Espanha, França, Holanda e Inglaterra, por meio das quais foram descobertas novas rotas comerciais para o Oriente e teve início o processo de colonização da América, incluindo o Brasil.
Por muito tempo, os historiadores tradicionais expuseram apenas os aspectos positivos desse processo, enfatizando as glórias, os benefícios e o progresso possibilitado pela colonização europeia do continente americano. Desse modo, a historiografia se esforçava por transmitir uma perspectiva heroica dos feitos da conquista dos europeus. Na verdade, nessa época, o termo “conquista” foi quase banido da História, dando lugar à expressão “descobrimento”, muito utilizado ainda hoje. Assim, ao invés de “conquista do Brasil” ou “conquista da América”, os historiadores escreviam “descobrimento da América” ou “descobrimento do Brasil”. Com raízes antigas, essa substituição de palavras pode ter começado já em 1556, quando o rei da Espanha proibiu o uso da palavra “conquista” em favor do termo “descobrimento”. Mais do que uma mera predileção terminológica, essa escolha era influenciada pelo cuidado em se evitar a ideia de que ocorrera uma violenta guerra entre os conquistadores (os europeus) e os conquistados (os nativos).
O fato de que hoje, no Brasil, falamos a língua portuguesa e praticamos o cristianismo é uma herança da presunção de superioridade cultural europeia em relação ao restante do mundo. No domínio da religião, aliás, o cristianismo foi imposto às todas as sociedades das terras conquistadas
O fato, no entanto, é que a conquista da América e do Brasil pelos europeus realmente ocorreu, frequentemente de forma violenta. Nos locais dominados, a economia, o ritmo de trabalho e os hábitos alimentares tiveram de se adaptar aos padrões europeus. O fato de que hoje, no Brasil, falamos a língua portuguesa e praticamos o cristianismo é uma herança da presunção de superioridade cultural europeia em relação ao restante do mundo. No domínio da religião, aliás, o cristianismo foi imposto a todas as sociedades das terras conquistadas. Qualquer manifestação religiosa diferente do cristianismo era reprimida. Não por acaso, atualmente o cristianismo é a religião mais praticada na América. Neste continente, aliás, embora a escravização de povos africanos tenha sido a mais conhecida, os locais também foram escravizados em massa, sendo frequentemente transportados para regiões distantes e obrigados a realizar trabalhos com os quais não estavam acostumados.
A chegada dos europeus ao continente americano resultou, ainda, em um dos maiores genocídios de toda a história. Para os povos locais, atualmente chamados de “pré-colombianos”, a expansão europeia representou o fim da organização social, cultural, econômica e política vigentes. Em grande parte, as culturas locais foram ignoradas pelos europeus, que tomaram as terras dos nativos e lhe impuseram os valores europeus. O domínio europeu sobre os povos americanos se assentava na presunção de uma superioridade cultural europeia em relação ao restante do mundo. Desse modo, os conquistadores se viam como detentores do direito de conquista e, por meio das navegações, trataram de difundir seus costumes, valores e hábitos para as mais diversas partes do mundo. A expansão europeia também foi fortemente influenciada por um viés religioso e catequizador. Os participantes das viagens de expansão sentiam-se imbuídos do mesmo espírito entusiasmado dos cavaleiros das cruzadas medievais com relação à divulgação da fé cristã. Assim, além das questões políticas e econômicas, a expansão era justificada com base na ideia de conquistar e converter os povos não cristãos do mundo.
Foi assim que teve início a formação da nação brasileira. Tudo começou naquele longínquo 22 de abril de 1500, uma data celebrada ainda hoje. Grande parte dos eventos que se seguiram àquele dia, porém, parecem pouco dignos de celebração.