Fórmula 1: risco calculado
Quem estava assistindo ao Grande Prêmio do Canadá de Fórmula 1, no dia 10 de junho de 2007, ficou chocado com o terrível acidente sofrido pelo piloto Robert Kubica, da equipe BMW-Sauber.
Kubica perdeu o controle do carro na 27ª volta, após encostar na parte traseira das rodas do carro de Jarno Trulli, da Toyota, na entrada da curva 10, quando andava a cerca de 230 km/h. O carro decolou e chocou-se contra o muro de concreto, em seguida cruzou a pista, capotou por várias vezes e parou, quase de cabeça para baixo. O piloto polonês de apenas 22 anos não dava sinais de reação quando foi atendido pelos comissários de pista, e foi logo transportado para o hospital.
A corrida ficou interrompida durante sete voltas, nas quais o safety car permaneceu na pista e o clima de tensão tomou conta do autódromo e de todos que acompanhavam a corrida ao vivo ou pela televisão. A demora para se ter notícias neste tipo de situação e o estado de destruição em que ficou a BMW aumentava ainda mais a angústia de todos. Não tinha como não se lembrar de acidentes fatais, como o de Ayrton Senna.
Felizmente, Kubica saiu do acidente praticamente ileso, tendo apenas algumas escoriações e uma torção no tornozelo. O piloto já teve alta do hospital no dia seguinte e escapou por muito pouco de entrar para as estatísticas das tragédias da Fórmula 1. Nas imagens do acidente é possível visualizar um dos pés do piloto que ficou totalmente exposto, após o bico do carro ter sido literalmente dilacerado.
Mas o fato de Kubica safar-se praticamente ileso do acidente não é apenas fruto do acaso ou de algum milagre. Os acidentes fatais na Fórmula 1 estão se tornando cada vez mais raros, em virtude da evolução tecnológica da modalidade que passou a investir pesado em projetos de engenharia que desenvolveram para a categoria materiais mais leves e resistentes em prol da segurança dos pilotos. Há tempos atrás, os pilotos pilotavam carros muito mais velozes do que os automóveis convencionais, mas que ao mesmo tempo não possuíam nenhum tipo de artefato que os tornassem mais seguros do que estes carros de passeio.
O que mais assustou no acidente de Kubica, além do fato do piloto não demonstrar nenhum tipo de reação logo após o acidente, foi a quantidade de destroços que o carro foi deixando pelo caminho após chocar-se com o muro. Mas os carros são projetados justamente para se desfazerem em acidentes deste tipo, de forma que esta perda de massa auxilie na absorção do impacto. A única parte do carro que não se desfaz é o cockpit, também conhecido como célula de sobrevivência, que é um compartimento quase indestrutível projetado através de testes de segurança chamados de crash tests, para preservar a integridade física do piloto.
Como explicam os engenheiros, se o carro fosse projetado todo em material similar ao do cockpit, não seria possível absorver o impacto e o piloto sofreria sérios traumatismos, pois seu corpo estaria recebendo todo o impacto do choque da mesma forma que o restante do carro. Perdendo massa pelo caminho, o impacto é reduzido e fragmentado. Graças à evolução tecnológica motivada pelas tragédias do passado, os acidentes fatais não fazem parte do circo da Fórmula 1 desde a trágica morte de Ayrton Senna em Ímola, 1994.