Alguma coisa sobre a Geografia da Fome
As grandes empresas mundiais produtoras de alimentos (como a Nestlé e a Parmalat) estão contribuindo para o crescimento da fome e da miséria no mundo, ao concentrarem os benefícios do comércio internacional de alimentos. Quem afirma é a ONG Action Aid, que desenvolve estudos e busca soluções para reduzir a pobreza mundial. O relatório que trata desse assunto foi divulgado durante o último Fórum Social Mundial, que aconteceu em janeiro de 2005, na cidade de Porto Alegre.
Não existem palavras para expressar o horror que é uma situação como a da foto... A fome é uma chaga social, talvez a pior, que precisa da atenção total da sociedade! |
Segundo o relatório, seis empresas transnacionais de alimentos controlam mais de três quartos do mercado global de pesticidas, e cinco delas detêm 90% do comércio mundial de grãos. Diz o relatório que "(...) do chá matinal, passando pelas barras de chocolates e até o litro de leite, umas poucas empresas transnacionais acumulam os benefícios do comércio mundial de alimentos".
Intitulado "Fome de poder: seis motivos para regulamentar as empresas globais de alimentos", o documento aponta a Monsanto, a Parmalat, a Nestlé, a Unilever e a Asda Wal-Mart como as empresas que promovem "abusos corporativos" contra o mercado internacional de alimentação.
A coordenadora do Programa de Segurança Alimentar da Action Aid, Flavia Londres, afirma que essas empresas - pelo poder que têm - acabam tendo condições de determinar preços de commodities agrícolas no mercado internacional. Dessa forma, conseguem ter influência muito grande sobre os organismos legislativos dos países, influenciando na criação de leis que beneficiem as empresas transnacionais em detrimento dos pequenos agricultores.
O relatório apresenta seis motivos para que os "abusos" das empresas sejam combatidos diretamente pelos governos, sociedade civil e organizações não-governamentais. Entre eles está a redução dos preços pagos aos agricultores e aumento dos preços cobrados para pesticidas e sementes - o que levaria a riqueza a ser transferida dos agricultores de países em desenvolvimento para um pequeno número de empresários dos países desenvolvidos.
Outros motivos seriam a imposição de padrões de consumo que não podem ser cumpridos por pequenos agricultores, assim como a não-prestação de contas das empresas sobre os seus impactos ambientais e sociais.
A ONG também denuncia a não-obrigatoriedade da responsabilidade social pelas empresas, e a imobilidade das comunidades atingidas pelo poder das empresas frente à pressão exercida pelo mercado. Como solução para a concentração das empresas, a Action Aid propõe uma série de soluções que variam desde a reforma do acordo de agricultura da Organização Mundial do Comércio (OMC) - para que ele venha a beneficiar as comunidades rurais dos países pobres - ao fortalecimento das organizações dos agricultores. Para a coordenadora da Action Aid, os governos dos países de todo o mundo também devem estar sensibilizados ao problema - especialmente o governo brasileiro. "A gente espera do governo uma mudança com relação à sua política agrícola. Embora, por um lado, o governo federal venha defendendo a criação de programas de combate à fome não só no Brasil, mas também em nível internacional, com o Fundo Internacional de Combate à Fome e à Pobreza, por outro lado, o governo tem investido demais na política do agronegócio, na produção de monocultura para exportação", observou.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Banco Mundial estimam que 1,3 bilhão de pessoas trabalham na agricultura em todo o mundo. Nos países em desenvolvimento, 50% das populações sobrevivem do setor, enquanto em todo o planeta esse número chega a 2,5 bilhões de pessoas.
O que a pesquisa da Action Aid consegue demonstrar é que o comportamento das empresas transnacionais no mercado internacional de alimentos tem levado sistematicamente ao aumento da pobreza, através da exclusão de agricultores familiares da sua atividade.