Qual o segredo do dentista?
Você já foi ao dentista? Já teve uma cárie, ou teve que arrancar algum dente? Então, com certeza, já lhe aplicaram algum anestésico local... Como será que as substâncias utilizadas como anestésicos agem?
As substâncias usadas como anestésicos locais, usualmente, são utilizadas antes de pequenas cirurgias, bloqueando as sensações de apenas alguma parte do corpo.
Imagine que antigamente a cocaína era utilizada como anestésico local!
Quando ingerida, a cocaína causa euforia, excitação, sensação de onipotência, falta de apetite, insônia e aumento ilusório de energia. Este efeito inicial dura cerca de meia hora, mas logo a seguir vem uma forte depressão que leva o usuário a consumir uma nova dose desta droga. No cérebro, age nos neurônios que liberam noradrenalina e serotonina. Observe a estrutura da cocaína na figura ao lado e repare que ela tem um grupo amino e dois grupos éster, além do anel aromático.
No entanto, ela pode bloquear a condução de potenciais de ação e por isto pode ser utilizada como anestésico local.
Contudo, a cocaína leva à dependência e é tóxica, por isto ela foi substituída por outras drogas como a procaína (ou novocaína), a lidocaína (ou xylocaína), a propoxicaína e a mevicaína (ou carbocaína). Estas drogas são derivadas da cocaína e suas estruturas estão ilustradas na figura ao lado.
Para uma substância agir como anestésico local, ela tem que ter determinadas características como: um anel aromático, localizado numa extremidade da molécula, uma cadeia intermediária e um grupo amina secundária ou terciária, localizada em outra extremidade da molécula. A parte aromática confere uma propriedade lipofílica à molécula, que é essencial para que ela atravesse as membranas celulares e penetre no seu local de ação. Já a parte terminal amina secundária ou terciária, confere hidrossolubilidade para a molécula, o que também é importante pois assegura que, uma vez injetada em concentração eficaz, a droga não se precipitará em contato com os líquidos que banham as células.
A parte intermediária é importante porque fornece uma separação espacial entre as extremidades lipofílicas e hidrofílicas. Geralmente, na cadeia intermediária encontramos a função éster, como a da procaína e propoxicaína; ou a função amida como a da mevicaína e da lidocaína. Pequenas modificações em qualquer parte da molécula do anestésico local podem influenciar no seu modo de ação, inclusive pode fazer com que ele deixe de ser anestésico ou que vire uma substância tóxica.
No Sistema Nervoso, os anestésicos tornam inativos os canais de sódio das células sensíveis, tais como: os neurônios e receptores sensoriais do local onde são aplicados. Desta forma, com os canais de sódio fechados, estes íons não podem mais entrar na célula, e assim não há mais potenciais de ação!
Assim como a cocaína, os anestésicos locais também podem agir no Sistema Nervoso Central, estimulando-o, causando vertigem, tonteira, distúrbios visuais e auditivos, apreensão, desorientação e atividades musculares involuntárias. Além disso, após este efeito inicial, provocam respostas depressoras como dificuldade de fala, sonolência e inconsciência. É devido a isto que temos aquela sensação ruim depois de tomar uma anestesia local! Agora você já sabe qual o segredo do dentista, para que seu tratamento não doa...