Quebrando códigos
Cada vez mais se fala em criptografia para e-mail, para comércio eletrônico, proteção de dados contra hackers... Mas poucas pessoas sabem que a criptografia e, em parte, o próprio computador, surgiram dos esforços dos aliados durante II Guerra Mundial para decifrar os códigos de comunicação usados pelos submarinos da Alemanha nazista.
Com a tecnologia da época, localizar um submarino não era nada fácil. E não bastava localizar, era preciso ter navios e aviões por perto para destruir ele antes que atacasse um comboio naval. Para isso era necessário capturar as transmissões alemãs e saber as rotas dos submarinos. Mas ninguém entendia as mensagens dos alemães.
Pode ter passado pela sua cabeça que era por causa da língua estranha... Pode até parecer engraçado, mas não era esse o problema. Tradutores não faltavam, o problema é que as mensagens não faziam sentido em nenhuma língua. Mas tinham que ter e enquanto esse sentido não fosse descoberto, os submarinos continuariam à solta.
Tudo por causa da máquina Enigma, um aparelho com a inofensiva aparência de uma máquina de escrever. Através de uma sofisticada combinação de engrenagens, a Enigma embaralhava a mensagem trocando uma letra por outra. Mas quando os aliados interceptavam uma mensagem e conseguiam decodificá-la já era tarde demais. Os submarinos alemães recebiam constantemente instruções para mudar o padrão usado pelas máquinas.
Percebendo que compreender a lógica da Enigma era vital para desvendar todo o sistema de comunicação da Alemanha, o serviço secreto britânico reuniu vários matemáticos para estudar seu funcionamento e comparar as mensagens decodificadas. O trabalho dos matemáticos é mostrado de maneira detalhada pelo filme Enigma (Inglaterra, 2001), que também expõe a intricada rede de espionagem entre inimigos e entre os próprios aliados. Ninguém é confiável numa guerra.
Nem na guerra pelos méritos. O filme U-571 – A batalha do Atlântico (EUA, 2000) mostra a marinha dos EUA tentando capturar a qualquer preço um submarino alemão para conseguir uma máquina Enigma. O filme acabou causando irritação nos ingleses, uma vez que foram eles que descobriram o sistema alemão e assumiram a maior parte do esforço para conseguir as informações necessárias para desvendá-lo. Houve até acusações de que nos filmes os norte-americanos se acham no direito de reescrever a história da maneira que lhes é mais conveniente.
O desenvolvimento de meios para desvendar sistemas de criptografia não a inutilizou, pelo contrário, impulsionou a criação de sistemas mais aperfeiçoados. A Guerra Fria exigiu ainda mais da criptografia, já que era um conflito baseado menos em guerras reais que na preparação para a guerra e na espionagem. Para desenvolver sistemas mais seguros e descobrir falhas no sistema do inimigo, ambos os lados empregaram os seus melhores talentos. Grandes matemáticos, como John Nash, cuja história é contada em Uma mente brilhante (EUA, 2001), foram colocados a serviço de uma guerra secreta de códigos e algoritmos.
Atualmente a criptografia não é algo restrito aos matemáticos e aos agentes de inteligência governamental.
Empresas e mesmo pessoas que tenham computador em casa podem usar a criptografia para embaralhar informações que queiram proteger. Em vez dos espiões, os hackers.
Da segurança nacional à privacidade pessoal, algumas formas de criptografia deixaram de ser segredo de Estado e se transformaram em um negócio lucrativo.